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O Poder do Hábito nos Esportes – A história de Tony Dungy e os Buccaneers

O relógio na outra ponta do campo diz que restam oito minutos e 19 segundos, quando Tony Dungy, o novo treinador-chefe dos Tampa Bay Buccaneers — um dos piores times da National Football League, e talvez da história do futebol americano profissional —, começa a sentir um pequeno lampejo de esperança.

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É um fim de tarde de domingo, 17 de novembro de 1996. Os Buccaneers estão jogando em San Diego contra os Chargers, um time que apareceu no Super Bowl no ano anterior. Os Bucs estão perdendo por 17 a 16. Eles vêm perdendo o jogo inteiro. Vêm perdendo a temporada inteira. Vêm perdendo a década inteira. Faz 16 anos que os Buccaneers não vencem um jogo na Costa Oeste, e muitos dos jogadores atuais estavam no ensino fundamental da última vez em que os Bucs tiveram uma temporada vitoriosa. Este ano, até agora, o recorde deles é 2-8. Num desses jogos, o Detroit Lions — um time tão ruim que depois seria descrito como “o passado de um time sem futuro” — venceu os Bucs por 21 a 6, e três semanas depois derrotou-os de novo, por 27 a 0. Um comentarista de jornal começou a chamar os Bucs de “capacho cor de laranja dos Estados Unidos”, referindo-se às cores do time. A ESPN está prevendo que Dungy, no emprego apenas desde janeiro, pode ser demitido antes do fim do ano.

Na lateral do campo, no entanto, enquanto Dungy observa seu time se preparar para o próximo jogo, parece que o sol finalmente surgiu entre as nuvens. Ele não sorri. Nunca deixa suas emoções transparecerem durante um jogo. Mas alguma coisa está acontecendo em campo, algo pelo qual ele vem trabalhando há anos. Enquanto as vaias da torcida hostil de 50 mil pessoas chovem em cima dele, Tony Dungy vê algo que ninguém mais vê. Ele vê uma prova de que seu plano está começando a dar certo.

Tony Dungy estava esperando por aquele emprego fazia uma eternidade. Durante 17 anos, ele rondara as laterais dos campos como treinador assistente, primeiro na Universidade do Minnesota, depois para os Pittsburgh Steelers, depois os Kansas City Chiefs, e depois novamente do Minnesota para os Vikings. Quatro vezes na última década, ele tinha sido convidado para entrevistas em cargos de técnico-chefe em times da NFL.

Todas as quatro vezes, as entrevistas não tinham ido bem.

Parte do problema era a filosofia de Dungy como técnico. Em suas entrevistas de emprego, ele explicava pacientemente sua crença de que o segredo da vitória era mudar os hábitos dos jogadores. Dizia que queria fazer com que os jogadores parassem de tomar tantas decisões durante um jogo. Queria que eles reagissem automaticamente, por hábito. Se ele conseguisse incutir os hábitos certos, seu time venceria. E ponto final.

“Os campeões não fazem coisas extraordinárias”, explicava Dungy. “Fazem coisas ordinárias, mas as fazem sem pensar, rápido demais para o outro time reagir. Seguem os hábitos que aprenderam. ”

Como, perguntavam os donos, você vai criar esses novos hábitos?

“Oh, não, ele não ia criar novos hábitos”, respondia Dungy. Os jogadores passavam a vida inteira formando os hábitos que os levavam à NFL. Nenhum atleta vai abandonar esses padrões só porque algum novo treinador mandou.

Então em vez de criar novos hábitos, Dungy ia mudar hábitos antigos dos jogadores. E o segredo de mudar velhos hábitos era usar o que já estava dentro da cabeça deles. Os hábitos são um loop de três etapas — a deixa, a rotina e a recompensa —, e Dungy só queria atacar a etapa do meio, a rotina. Ele sabia por experiência que era mais fácil convencer alguém a adotar um novo comportamento se existe algo familiar no começo e no fim.

Sua estratégia como técnico personificava um axioma, uma Regra de Ouro da mudança de hábito que, segundo mostraram estudos e mais estudos, está entre as ferramentas mais poderosas para gerar mudanças. Dungy reconheceu que nunca se pode realmente eliminar os hábitos ruins.

Em vez disso, para mudar um hábito, você precisa manter a velha deixa e oferecer a velha recompensa, mas inserir uma nova rotina.

Eis a regra: se você usa a mesma deixa, e fornece a mesma recompensa, pode trocar a rotina e alterar o hábito. Quase todo comportamento pode ser transformado se a deixa e a recompensa continuarem as mesmas.

A Regra de Ouro já influenciou tratamentos para alcoolismo, obesidade, transtornos obsessivo-compulsivos e centenas de outros comportamentos destrutivos, e entendê-la pode ajudar qualquer pessoa a mudar seus próprios hábitos. (Tentativas de parar de fazer lanches, por exemplo, muitas vezes fracassam, a não ser que haja uma nova rotina para satisfazer as velhas deixas e anseios por recompensa. Um fumante geralmente não consegue largar o vício se não encontrar alguma atividade para substituir os cigarros quando seu anseio por nicotina é deflagrado.)

Quatro vezes Dungy explicou sua filosofia baseada nos hábitos para dirigentes de times. Quatro vezes eles ouviram educadamente, agradeceram-no por seu tempo e depois contrataram outra pessoa.

Então, em 1996, os lamentáveis Buccaneers o chamaram. Dungy viajou até Tampa Bay e, mais uma vez, apresentou seu plano de como eles podiam vencer. Um dia depois da entrevista final, eles lhe ofereceram o emprego.

O sistema de Dungy acabaria transformando os Bucs num dos times mais vitoriosos da liga. Ele se tornaria o único treinador da história da NFL a chegar às finais em dez anos consecutivos, o primeiro técnico afro-americano a vencer um Super Bowl, e uma das figuras mais respeitadas do esporte profissional. Suas técnicas como treinador se disseminariam por toda a liga e todo o mundo dos esportes. Sua abordagem ajudaria a esclarecer como se transformam hábitos na vida de qualquer pessoa.

Mas tudo isso ainda estava por vir. Hoje, em San Diego, Dungy só queria vencer.

Do seu banco de técnico, ele olha o relógio: restam oito minutos e 19 segundos de jogo. Os Bucs vêm perdendo o jogo inteiro e desperdiçaram uma oportunidade atrás da outra, como é típico deles. Se a defesa não fizer alguma coisa agora mesmo, este jogo estará perdido de fato. San Diego está com a bola na sua própria linha de 20 jardas, e o quarterback1 dos Chargers, Stan Humphries, está se preparando para liderar uma investida com a qual ele espera fechar o jogo. O relógio começa a contar, e Humphries está a postos para tomar a bola.

Mas Dungy não está olhando para Humphries. Em vez disso, está observando seus próprios jogadores se alinharem numa formação que passaram meses aperfeiçoando. Tradicionalmente, o futebol americano é um jogo de fintas e contrafintas, dribles e manobras falsas. Os treinadores com os livros de táticas mais volumosos e os esquemas mais complicados geralmente vencem. Dungy, no entanto, adotou a abordagem contrária. Não está interessado em complicações e artimanhas. Quando os jogadores da defesa de Dungy se alinham, fica óbvio para todo mundo qual tática exatamente eles vão usar.

Dungy optou por essa abordagem porque, em tese, ele não precisa de artimanhas. Apenas precisa que seu time seja mais rápido que todos os outros. No futebol americano, os milissegundos importam. Por isso, em vez de ensinar a seus jogadores centenas de formações, ele ensinou-lhes apenas um punhado delas, mas as praticaram inúmeras vezes até que os comportamentos se tornassem automáticos. Quando sua estratégia funciona, seus jogadores conseguem avançar numa velocidade insuperável.

Mas isso é só quando funciona. Se seus jogadores pensarem demais, hesitarem ou questionarem seus instintos, o sistema cai por terra. E até agora os jogadores de Dungy só têm feito besteira.

Desta vez, no entanto, enquanto os Bucs se alinham na linha de 20 jardas, há algo de diferente. Pensemos por exemplo em Regan Upshaw, um defensive end dos Buccaneers que se instalou numa posição de três pontos na linha de scrimmage. Em vez de percorrer a linha com os olhos, tentando absorver o máximo de informação possível, Upshaw está olhando apenas para as deixas em que Dungy lhe ensinou a se focar. Primeiro ele olha de relance para o pé de fora do lineman adversário (seus dedos dos pés estão recuados, o que significa que ele está se preparando para bloquear enquanto o quarterback passa); em seguida, Upshaw olha para os ombros do lineman (voltados levemente para dentro), e o espaço entre ele e o jogador mais próximo (alguns centímetros mais estreitos do que o esperado).

Upshaw praticou como reagir a cada uma dessas deixas tantas vezes que, a essa altura, ele não precisa pensar no que fazer. Apenas segue seus hábitos.

O quarterback do San Diego se aproxima da linha de scrimmage e olha de relance para a direita, depois para a esquerda, grita a contagem e toma a bola. Ele recua cinco passos e fica aprumado, girando a cabeça, procurando alguém livre para receber. Três segundos se passaram desde que a jogada começou. Os olhos do estádio e as câmeras de TV estão voltados para ele.

Por isso, a maior parte dos observadores não enxerga o que está acontecendo entre os Buccaneers. Assim que Humphries tomou a bola, Upshaw entrou em ação. Dentro do primeiro segundo da jogada, ele disparou para a direita, cruzando a linha de scrimmage, tão rápido que o lineman do ataque não conseguiu bloqueá-lo. No segundo seguinte, Upshaw correu mais quatro passos para a frente, numa velocidade estonteante. Em mais um segundo, Upshaw deu mais três passos largos para perto do quarterback, trajetória que o lineman do ataque não poderia ter previsto.

Conforme a jogada avança para seu quarto segundo, Humphries, o quarterback do San Diego, de repente está exposto. Ele hesita, vê Upshaw com o canto do olho. E é nesse momento que Humphries comete seu erro. Ele começa a pensar.

Humphries avista alguém do seu time, um tight end novato chamado Brian Roche, 20 jardas mais à frente no campo. Há outro receiver do San Diego muito mais perto, agitando os braços, pedindo a bola. O passe curto é a escolha segura. Em vez disso, Humphries, sob pressão, executa uma análise de fração de segundo, inclina o braço para trás e lança a bola para Roche.

Essa decisão apressada é exatamente o que Dungy estava torcendo para acontecer. Assim que a bola está no ar, um safety dos Buccaneers chamado John Lynch começa a se mover. A tarefa de Lynch era simples: quando a jogada começou, ele correu para um ponto específico do campo e ficou esperando sua deixa. Há uma enorme pressão para que ele improvise nessa situação. Mas Dungy treinou Lynch até que sua rotina virasse automática. E como resultado, quando a bola sai das mãos do quarterback, Lynch está postado a 10 jardas de Roche, esperando.

Enquanto a bola gira no ar, Lynch interpreta suas deixas — a direção do rosto e das mãos do quarterback, o espaçamento entre os receivers — e começa a avançar antes que fique claro onde a bola vai cair. Roche, o receiver do San Diego, pula para a frente, mas Lynch o contorna e intercepta o passe. Antes que Roche consiga reagir, Lynch dispara pelo campo afora rumo à endzone dos Chargers. Os outros Buccaneers estão perfeitamente posicionados para abrir caminho para ele. Lynch corre 10, depois 15, depois 20, depois quase 25 jardas antes de ser finalmente empurrado para fora do campo. A jogada inteira durou menos de dez segundos.

Dois minutos depois, os Bucs marcam um touchdown, assumindo a liderança pela primeira vez no jogo inteiro. Cinco minutos depois, eles fazem um field goal. Nesse meio-tempo, a defesa de Dungy bloqueia cada tentativa do San Diego de reverter o placar. Os Buccaneers vencem por 25 a 17, uma das maiores surpresas da temporada.

Ao fim do jogo, Lynch e Dungy saem do campo juntos. “Parece que alguma coisa diferente aconteceu ali”, Lynch diz enquanto eles entram no túnel.

“Estamos começando a acreditar”, responde Dungy.

 

(…)

“Eis os seis motivos pelos quais todo mundo acha que não podemos vencer”, Dungy disse a seus Buccaneers depois de virar treinador-chefe em 1996. Faltavam meses para a temporada começar e todo mundo estava sentado no vestiário. Dungy começou a listar as teorias que todos tinham lido nos jornais ou ouvido no rádio: a administração do time era confusa. O novo técnico não tinha sido testado. Os jogadores eram mimados. A cidade não se importava com o time. Jogadores cruciais estavam machucados. Eles não tinham o talento de que precisavam.

“Estes são os supostos motivos”, disse Dungy. “Agora eis um fato: ninguém vai trabalhar mais que nós. ”

Dungy explicou que sua estratégia era mudar os comportamentos do time até que o desempenho deles se tornasse automático. Não acreditava que os Buccaneers precisassem do livro de táticas mais grosso. Não achava que tinham que memorizar centenas de formações. Só tinham que aprender umas poucas jogadas essenciais e acertá-las todas as vezes.

No entanto, é difícil atingir a perfeição no futebol americano. “Em toda jogada do futebol — em toda jogada — alguém faz uma besteira”, disse Herm Edwards, um dos treinadores assistentes de Dungy em Tampa Bay. “Na maior parte das vezes, não é físico. É mental. ” Os jogadores fazem besteira quando começam a pensar demais ou questionar suas jogadas. O que Dungy queria era tirar do jogo deles todas essas tomadas de decisão.

E para fazer isso, precisava que eles reconhecessem seus hábitos existentes e aceitassem novas rotinas.

Ele começou observando o modo como o time já jogava. “Vamos trabalhar no esquema”, Dungy gritou certo dia no treino matinal. “Número 55, qual é sua instrução? ”

“Estou observando o running back e o guard”, disse Derrick Brooks, um outside linebacker.

“O que precisamente você está olhando? Onde estão seus olhos? ”

“Estou olhando o movimento do guard”, disse Brooks.  “Estou observando as pernas e os quadris do quarterback depois que ele pega a bola. E estou procurando espaços na linha, para ver se eles vão passar e se o quarterback vai jogar para o meu lado ou para longe. ”

No futebol americano, essas deixas visuais são conhecidas como “chaves” e consideradas essenciais para qualquer jogada. A inovação de Dungy foi usar essas chaves como deixas para hábitos retrabalhados. Ele sabia que, às vezes, Brooks hesitava por um instante longo demais no começo de uma jogada. Havia tantas coisas para ele pensar — será que o guard vai sair da formação? O pé do running back indica que ele está se preparando para uma jogada de correr ou de passar? — que às vezes ele ficava mais lento.

O objetivo de Dungy era libertar a mente de Brooks de toda essa análise. Assim como os Alcoólicos Anônimos, ele usou as mesmas deixas a que Brooks já estava acostumado, porém lhe deu rotinas diferentes que, no fim, acabaram acontecendo automaticamente.

“Quero que você use as mesmas chaves”, Dungy disse a Brooks. “Mas, primeiro, foque apenas no running back. É isso. Faça isso sem pensar. Depois que você estiver em posição, aí sim comece a procurar o quarterback.”

Foi uma mudança relativamente modesta — os olhos de Brooks prestavam atenção nas mesmas deixas, mas, em vez de olhar para vários lugares ao mesmo tempo, Dungy as colocou numa sequência e disse a ele, de antemão, a escolha que deveria ser feita quando ele via cada chave. A parte brilhante desse sistema era que ele eliminava a necessidade de tomar decisões. Permitia que Brooks avançasse mais rápido, porque tudo era uma reação — e por fim, um hábito — e não uma escolha.

Dungy deu instruções semelhantes para todos os jogadores e praticou as formações inúmeras vezes. Levou quase um ano até que os hábitos de Dungy se arraigassem. O time perdeu jogos fáceis no começo da temporada. Os colunistas esportivos perguntavam-se por que os Bucs estavam desperdiçando tanto tempo com charlatanices psicológicas.

Mas lentamente, eles começaram a melhorar. Por fim, os padrões se tornaram tão familiares para os jogadores que aconteciam automaticamente quando o time entrava em campo. Na segunda temporada de Dungy como treinador, os Bucs venceram seus primeiros cinco jogos e foram para as finais pela primeira vez em 15 anos. Em 1999, eles venceram o campeonato da divisão.

O estilo de Dungy como treinador começou a chamar a atenção do país inteiro. A mídia esportiva se apaixonou por sua postura de voz baixa, sua devoção religiosa, e a importância que ele dava para o equilíbrio entre trabalho e família. Reportagens de jornal contavam como ele levava os filhos, Eric e Jamie, ao estádio para que pudessem conviver durante os treinos. Os filhos faziam a lição de casa na sala dele e buscavam toalhas nos vestiários. Parecia que, finalmente, o sucesso tinha chegado.

Em 2000, os Bucs chegaram às finais outra vez, e depois novamente em 2001. Os fãs agora lotavam o estádio toda semana. Locutores falavam do time como candidato ao Super Bowl. Tudo estava se tornando real.

Mas enquanto os Bucs se tornavam uma potência, um problema perturbador surgiu. Eles geralmente jogavam jogos rígidos, disciplinados. No entanto, durante momentos cruciais de grande estresse, tudo caía por terra.

Em 1999, depois de vencer seis partidas seguidas no fim da temporada, os Bucs se deram mal na semifinal contra os St. Louis Rams. Em 2000, só faltava um jogo para entrarem para o Super Bowl quando levaram uma surra dos Philadelphia Eagles, perdendo de 21 a 3. No ano seguinte, a mesma coisa aconteceu de novo, e os Bucs perderam para os Eagles de 31 a 9, estragando sua chance de avançar.

“Nós treinávamos e tudo se encaixava, e então íamos para um jogo importante e era como se o treinamento tivesse sumido”, Dungy me disse. “Depois do jogo, meus jogadores diziam: ‘Bom, era uma jogada crítica e eu voltei para o que sabia’ ou ‘Senti que tinha que avançar’. O que eles realmente estavam dizendo era que confiavam no nosso sistema na maior parte do tempo, mas quando tudo estava na corda bamba, essa fé se rompia. ”

Concluída a temporada de 2001, depois de os Bucs novamente terem por pouco ficado de fora do Super Bowl pelo segundo ano seguido, o diretor-geral do time pediu que Dungy viesse a sua casa. Ele estacionou perto de um enorme carvalho, entrou e trinta segundos depois foi demitido.

Os Bucs iriam vencer o Super Bowl no ano seguinte usando as formações e os jogadores de Dungy, e confiando nos hábitos que ele havia modelado. Ele assistiria, pela TV, o treinador que entrara no seu lugar erguer o troféu Lombardi. Mas a essa altura, Dungy já estaria muito longe.

 (Texto tirado do Livro “O Poder do Hábito”, de Charles Duhigg) 

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